A insustentável leveza do imobiliário

Daniel Almeida, CEO & Founder DAHOUSE Imobiliária

Equilíbrio e justiça social têm, forçosamente, de se sobrepor ao piloto automático do enriquecimento fácil. Todo o ser humano tem direito a uma habitação. Aliás, está consagrado na nossa constituição. Ter o nosso espaço físico, o nosso refúgio, é o nosso primeiro instinto e preocupação.

Assim sendo, e tendo em conta que o teletrabalho veio para ficar, bem como uma notória transformação da noção de família clássica, onde os hábitos e o modo de vida das pessoas se vão alterando, começam a surgir novas tendências de habitação, como o Co-Living (vivência em comunidade). Acredito que poderá ser uma solução para colmatar a ausência de um aspeto social fundamental, como a socialização, para o equilíbrio na vida das pessoas, no sentido de continuarmos a evoluir e a ter mais qualidade de vida.

 

Consequências do Pós-Pandemia no equilíbrio entre Família e Trabalho

Anteriormente, pelo estereótipo de vida para o qual fomos educados e orientados a seguir, as pessoas procuravam uma componente social no seu local de trabalho (uma segunda família) que ajudava a complementar a sua habitação e o seu ambiente familiar. A casa e o trabalho eram para a vida. Atualmente não, existe um novo sentido de mobilidade, e os projetos de habitação e de trabalho, deixaram de ser definitivos. Neste momento, e com o crescimento do teletrabalho, essa componente social de alguma forma perde a sua vitalidade, torna a relação profissional impessoal e distante, criando desequilíbrios na estabilidade das pessoas. Muitos jovens não têm possibilidade de poder sair da casa de família e ganhar a sua independência, e veem-se a trabalhar e a viver no mesmo local, criando desequilíbrios sociais nefastos.

À imagem do que é retratado no filme que ganhou o último Óscar de melhor filme, “Nomadland”, onde a protagonista procura a sua felicidade e equilíbrio através do conforto social que encontra, a viver em comunidade num parque de Autocaravanas, não resistindo ao ambiente profissional distante, frio e demasiado tecnológico.

“…os hábitos e o modo de vida das pessoas vão-se alterando, e começam a surgir novas tendências de habitação, como o Co-Living (vivência em comunidade)”

“Isto já está a acontecer pelo mundo inteiro, e também em Portugal. Em Lisboa e no Porto começam a rentabilizar-se hotéis e espaços de alojamento com este conceito, promovendo o investimento imobiliário em consonância com o servir de uma necessidade premente.”

 

Novas Tendências de Habitação

Pegando na premissa de que o mercado se ajusta, começam a surgir as tais novas tendências de habitação, que em várias realidades vêm preencher um vazio existente, ajudando as pessoas a conseguir mais conforto e qualidade de vida.

Isto já está a acontecer pelo mundo inteiro, e também em Portugal. Em Lisboa e no Porto começam-se a rentabilizar hotéis e espaços de alojamento com este conceito, promovendo o investimento imobiliário em consonância com o servir de uma necessidade premente. Aliás, a NASA tem um projeto de habitação para as estações espaciais que irão nascer no futuro, não muito distante, criando esta “estranha forma de vida”, aliando o conforto social ao aproveitamento de “espaço”.

 

Regulamentação e Profissionalização do Setor Imobiliário

A falta de profissionalização no setor imobiliário no nosso país, cria uma espécie de anarquia no setor, em todos os aspetos. Um paraíso para os “sucateiros” e “vigaristas” que se aproveitam desta situação, desprovida de ética e consciência social. Um jogo de milhões para os investidores, que contribui diretamente para a economia paralela, travando a evolução do país e dificultando a vida dos cidadãos.

Nesse sentido, e para reconhecer efetivamente os grandes profissionais da mediação imobiliária existentes em Portugal, urge solucionar este problema, contra todos os poderes e interesses instalados, no sentido de acabar com a pornográfica tributação a que as empresas de mediação imobiliária estão sujeitas, como se o Estado fosse um sócio maioritário das nossas empresas.

O Estado terá de intervir também, na regulação do mercado de arrendamento, à imagem do que acontece, por exemplo, em Espanha, onde o estado limita o valor por metro quadrado do valor das rendas, em função das caraterísticas do imóvel. Para que isto seja atrativo para os investidores, gerando mais oferta e, consequentemente, nivelando os valores das rendas, o Estado terá de investir na fiscalização, de modo a poder baixar a exagerada carga fiscal que inibe os investidores na aquisição de imóveis para colocação no mercado de arrendamento.

O primeiro passo para essa atitude é a consciencialização do problema. É preciso falar sobre este tema. É preciso criar discussão em forma de apelo à entidade que tutela a nossa atividade e às principais marcas, que com o seu peso, têm o dever e a obrigação de intervir na resolução destes problemas, ao invés de se tentarem promover com os mais variados embustes. É urgente a dignificação do setor imobiliário.

 

Artigo originalmente publicado em: https://revistaspot.pt/wp-content/uploads/2021/12/CASA-DESIGN-2021-2.pdf
Janeiro 28, 2022